O pager, dispositivo popular entre os anos 80 e 90 e usado, assim como walkie-talkies, em recente ataque ao grupo libanês Hezbollah, já foi meio de comunicação popular em diversas atividades profissionais antes da chegada do celular. Um dos locais em que eles eram mais ativos eram os hospitais.
Ainda hoje, quase 200 empresas possuem autorização para usar sinais de pagers no Brasil, sendo a maioria do setor de saúde, segundo dados da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Isso não significa que as empresas de fato usem o serviço, de acordo com o órgão.
Grandes hospitais com autorizações concedidas no início dos anos 2000 procurados pela Folha afirmam não utilizar mais esses sistemas como meio de comunicação oficial entre profissionais.
Para enviar mensagens a um desses aparelhos o remetente ligava para um número de telefone do serviço de pager e informava o número do destinatário e a mensagem a um atendente ou sistema automatizado. A central transmitia a informação via ondas de rádio para o pager específico, que alertava o usuário com um bipe ou vibração.
Modelos mais avançados permitiam a integração com sistemas próprios. Diferentemente dos celulares, a maioria dos pagers tinha comunicação unidirecional, capaz apenas de receber mensagens, não de enviar respostas.
“Era muito comum empresas se interessarem por esse tipo de serviço, principalmente porque, antes do celular com capacidade de transmissão de mensagens e dos aplicativos como WhatsApp e Telegram, não havia um serviço que viabilizasse essa comunicação”, diz Carlos Nazareth Marins, diretor do Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações).
O caimento em desuso é mais acentuado no Brasil, de acordo com o especialista. “Existem alguns países, principalmente na Europa e também no Canadá, onde o pager ainda é utilizado, especialmente nas áreas de saúde e forças de segurança”, diz.
Um estudo publicado no Journal of Hospital Medicine em 2017 revelou que quase 80% dos médicos tinham tido contato com pagers nas instituições em que trabalhavam.
A popularidade do aparelho entre trabalhadores de saúde americanos se traduziu até em uma aparição da série de televisão Grey’s Anatomy, onde um pager repleto de lantejoulas é disputado entre residentes em um episódio de 2008.
Em um vídeo publicado no TikTok em março de 2023, a médica Sarah Schollmeier conta que só teve contato com a tecnologia quando foi fazer um intercâmbio acadêmico na Alemanha.
Nos comentários, alguns seguidores brasileiros contam que ainda têm contato com os aparelhos em ambulatórios onde trabalham.
Confiabilidade no sinal e necessidade de poucas torres para a cobertura de grandes áreas, já que a informação a ser repassada é muito pequena, seriam as vantagens inicialmente fornecidas pela tecnologia, de acordo com especialistas.
A ausência de sistema de geolocalização também o torna atraente para organizações que buscam meios de comunicação de difícil rastreamento.
No Brasil, o serviço de pager é prestado pelo Serviço Especial de Radiochamada da Anatel, tanto para fornecimento a terceiros quanto para uso da própria empresa interessada. Existem oito empresas com autorização ativa para a prestação a terceiros e 190 autorizações para uso próprio, segundo a autarquia.
Fora dessa seara, há ainda uma versão mais simplificada da tecnologia utilizada principalmente em restaurantes para gerenciar filas de espera. São os chamados “bipes de restaurante”, que funcionam como um pager com transmissão local do sinal, no que a Anatel classifica como “radiação direta”, também usada no roteador de casa, ou o controle do alarme do carro.
“É para comunicação em uma área muito pequena. O próprio restaurante instala, aciona, e o sinal é transmitido localmente”, diz Eduardo Tude, fundador da consultoria Teleco.
Os bipes de restaurante são facilmente encontrados para venda na internet, mas precisam de homologação da Anatel para operar. Um kit com disparador de sinais e 20 unidades de bipes é encontrado por cerca de R$ 2.000.