A Apple deve ultrapassar pela primeira vez neste ano a marca de US$ 100 bilhões em receita anual com sua divisão de serviços, apesar da crescente pressão legal e regulatória sobre a App Store.
O negócio que inclui iCloud, Apple Pay e o seguro AppleCare deve registrar US$ 108,6 bilhões em receita no ano encerrado no mês passado, segundo estimativas consensuais de analistas compiladas pela Visible Alpha, uma alta de cerca de 13% em relação ao ano anterior.
Se a Apple confirmar esses números ao divulgar seus resultados do quarto trimestre fiscal nesta semana, isso fará com que a divisão de serviços sozinha supere o faturamento anual de empresas como Walt Disney, Tesla ou Tencent neste ano.
O lucrativo negócio de serviços da Apple, supervisionado principalmente pelo executivo Eddy Cue, dobrou de tamanho nos últimos cinco anos, tornando-se uma fonte essencial de crescimento em um momento em que as vendas de iPhones se mostram menos confiáveis.
Os serviços devem representar um quarto da receita da Apple, mas até 50% de seu lucro, segundo o analista Samik Chatterjee, do JPMorgan, refletindo a “fidelização” de produtos como o Apple Pay e as assinaturas recorrentes de armazenamento no iCloud.
“O engajamento dos consumidores continua a crescer nos iPhones, impulsionado não apenas pela expansão da base instalada, mas também por uma maior monetização por dispositivo”, disse Chatterjee.
A divisão também foi impulsionada por um acordo bilionário com o Google, que mantém o buscador como padrão nos iPhones e outros dispositivos da Apple.
Esse contrato foi em grande parte poupado na decisão judicial de setembro, após a vitória antitruste do Departamento de Justiça dos EUA contra o Google. A sentença não proibiu o compartilhamento de receitas publicitárias com parceiros, o que trouxe grande alívio aos investidores da Apple.
Mas o próprio caso antitruste da Apple com o governo dos EUA paira sobre o negócio de serviços, junto a novas regulações no Reino Unido e na Europa que podem restringir as taxas de até 30% cobradas pela App Store sobre compras de bens digitais.
A Justiça dos EUA acusa a Apple de usar seu monopólio em smartphones para sufocar a concorrência e limitar a escolha dos consumidores, por meio de suas regras da App Store e também em áreas como relógios inteligentes e pagamentos móveis.
O gigante de tecnologia também ainda enfrenta o processo movido pela Epic Games, que busca abrir o ecossistema da App Store. A empresa recorreu de uma decisão de abril na qual a juíza encaminhou o caso a um promotor criminal, alegando que a Apple teria deliberadamente descumprido sua ordem judicial.
Na semana passada, um tribunal britânico concluiu que a Apple abusou de seu “poder de mercado quase absoluto” na distribuição de aplicativos e nos pagamentos dentro do iOS —decisão que pode obrigá-la a pagar até 1,5 bilhão de libras em indenizações a milhões de consumidores no Reino Unido. A Apple classificou a decisão como “equivocada” e pretende recorrer.
O órgão regulador da concorrência do Reino Unido também afirmou, na semana passada, que colocará a plataforma móvel da Apple sob a supervisão do novo regime digital do país, que poderá obrigar a empresa a permitir lojas de aplicativos alternativas ou novos sistemas de pagamento no iPhone.
A Apple sustenta que seu controle rigoroso sobre o software e os serviços do iPhone é fundamental para garantir a segurança e a privacidade dos usuários, além de assegurar a curadoria da App Store e oferecer ferramentas digitais aos desenvolvedores. A companhia também cobra uma taxa reduzida de 15% para aplicativos pagos e assinaturas de pequenos desenvolvedores.
Apesar dos desafios legais, analistas esperam que os serviços ganhem peso crescente na estrutura da Apple nos próximos anos, à medida que a empresa expande seu braço de mídia para esportes ao vivo —como o recente acordo de US$ 700 milhões para transmitir corridas de Fórmula 1 nos EUA— e prepara uma reformulação da assistente virtual Siri.
Os serviços devem representar mais de 30% das receitas da Apple até o fim da década, com vendas chegando a US$ 175 bilhões, segundo estimativas da Visible Alpha.
Para comparação, o iPhone deve responder por cerca de metade dos US$ 415 bilhões em vendas anuais previstas para o ano fiscal de 2025, com crescimento estimado em 4%.
Bens digitais e assinaturas têm margens de lucro mais altas até mesmo que o hardware premium da Apple. A margem bruta dos serviços deve atingir 75% no último ano fiscal, de acordo com dados da Visible Alpha —contra 40% no caso do iPhone.
Isso ajudou a empresa a elevar sua margem bruta total de 38% em 2020 para cerca de 47% neste ano.