As consultorias precisam se reinventar como empresas de software se quiserem sobreviver na era da inteligência artificial, afirmou o chefe da IBM Consulting.
Uma mudança de mentalidade é necessária por causa da nova concorrência das companhias de tecnologia e do ceticismo dos clientes, disse Mohamad Ali em entrevista ao Financial Times, em meio a dúvidas no setor sobre as oportunidades e riscos trazidos pela IA.
Ali voltou à IBM há dois anos com a missão de transformar a divisão de consultoria em um negócio de “serviço como software” e desenvolver milhares de “agentes” digitais capazes de executar tarefas com mínima supervisão humana —primeiro dentro da empresa e depois para os clientes.
“O futuro da consultoria será uma combinação de pessoas e software —e muito software”, afirmou Ali. “E acho que as consultorias que não conseguirem fazer isso vão desaparecer.”
Tradicionalmente, consultores ajudam empresas a ganhar eficiência elaborando planos de reestruturação, implementando softwares de terceiros ou oferecendo expertise específica, como em segurança cibernética.
Agora, com muitas dessas tarefas podendo ser assumidas por agentes semiautônomos, o desafio é decidir quando construir essas ferramentas internamente e como fazer com que milhares de agentes distintos funcionem em conjunto.
Firmas como Deloitte, KPMG e McKinsey correm para desenvolver suas próprias plataformas de IA “agêntica”, prometendo cardápios de ferramentas que poderão ser aplicadas nos clientes.
“As empresas de software também vão entrar nesse mercado e passar a oferecer serviços digitais por meio de agentes”, disse Ali. “Por isso, nossa estratégia é correr o mais rápido possível para entregar o máximo possível por meio desses agentes —e converter boa parte do nosso negócio em um negócio de software.”
Folha Mercado
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As consultorias esperam que a adoção da IA tire o setor de um período de crescimento lento, que já dura mais de dois anos. A divisão de consultoria foi a mais fraca das três principais áreas da IBM neste ano, com nenhum crescimento de receita, em contraste com 5% na de hardware e 9% na de software.
Ali atribui parte da fraqueza ao aumento dos investimentos internos em IA pelas empresas, além da economia incerta e do corte de gastos do governo americano.
“As companhias estão gastando muito dinheiro tentando descobrir como construir isso”, disse.
Mas, segundo ele, as empresas acabarão percebendo que precisam de consultorias para implementar suas estratégias de IA, citando um estudo do MIT segundo o qual 95% dos projetos de IA generativa não trouxeram retorno financeiro.
Mesmo assim, alguns líderes corporativos continuam céticos quanto ao valor que as consultorias podem agregar em relação ao desenvolvimento interno, e investidores também estão apreensivos.
As ações da Accenture, rival da IBM, caíram 30% neste ano, em parte por preocupações com o impacto da IA em seu negócio de serviços gerenciados —no qual clientes terceirizam funções como call centers. A CEO da Accenture, Julie Sweet, disse no mês passado que a empresa está reformulando sua força de trabalho para a era da IA e demitirá funcionários que não conseguirem adquirir as novas habilidades necessárias.
Ali trabalhou na IBM de 1996 a 2009, período em que supervisionou o crescimento da área de softwares de análise da empresa. Depois, foi chefe de estratégia da Hewlett-Packard, CEO de um grupo de pesquisa tecnológica e de uma empresa de software em nuvem, antes de retornar à IBM em 2023 como diretor de operações da divisão de consultoria. Ele comanda a área desde julho do ano passado.
Ali afirma que a IBM Consulting está apresentando a IA agêntica como um salto de eficiência corporativa, citando o próprio esforço interno da IBM: US$ 3,5 bilhões em economias em dois anos com o uso de automação em 70 áreas diferentes.
Segundo ele, os grandes modelos de linguagem estão se tornando commodities.
“O foco agora não é mais nos LLMs em si, mas nas aplicações que você constrói sobre eles”, concluiu.