Elon Musk sofre êxodo de executivos por burnout e política – 30/09/2025 – Tec

O império empresarial de Elon Musk foi atingido por uma onda de saídas de executivos seniores no último ano, à medida que suas exigências implacáveis e seu ativismo político aceleram a rotatividade nos cargos de alto escalão.

Membros-chave da equipe de vendas nos EUA da Tesla, das operações de bateria e trem de força, do setor de assuntos públicos e até o diretor de informação deixaram a companhia. Também saíram integrantes centrais das equipes de robótica Optimus e de inteligência artificial, nas quais Musk aposta o futuro da empresa.

Na xAI, sua startup de IA fundada há dois anos e fundida com a rede social X em março, a rotatividade foi ainda mais rápida. O diretor financeiro e o diretor jurídico saíram recentemente, com poucos meses de casa, em um intervalo de apenas uma semana.

Essas saídas fazem parte de um êxodo do conglomerado do homem mais rico do mundo, que administra cinco empresas —da SpaceX à Tesla— e mais de 140 mil funcionários. O Financial Times conversou com mais de uma dúzia de atuais e ex-colaboradores para entender o cenário de turbulência.

Muitos deixaram os cargos de forma amistosa, após longos anos de serviço, para fundar startups ou tirar períodos sabáticos. Mas, segundo fontes, cresce o número de pessoas que abandonam os projetos por esgotamento, desilusão com mudanças estratégicas, demissões em massa e pelas posições políticas de Musk.

“O que não muda no mundo do Elon é a rapidez com que ele consome seus braços direitos”, disse um de seus conselheiros. “Até o conselho brinca: existe o tempo normal e existe o ‘tempo Tesla’. É uma ética de trabalho em ritmo de campanha, 24 horas por dia, sete dias por semana. Nem todo mundo aguenta isso.”

Robert Keele, ex-diretor jurídico da xAI, encerrou sua passagem de 16 meses em agosto postando um vídeo gerado por IA de um advogado engravatado gritando enquanto cava carvão em brasa. “Amo meus dois filhos pequenos e não consigo vê-los o suficiente”, comentou.

Mike Liberatore durou apenas três meses como CFO da xAI antes de migrar para o rival Sam Altman, da OpenAI. “102 dias —sete dias por semana no escritório; mais de 120 horas semanais; eu amo trabalhar duro”, escreveu no LinkedIn.

Segundo ex-executivos, a intensidade de Musk aumentou após o lançamento do ChatGPT, no fim de 2022, que abalou a ordem estabelecida do Vale do Silício. Muitos funcionários enxergam sua rivalidade com Altman —com quem cofundou a OpenAI antes de romper— como uma das razões da pressão imposta à equipe.

“Elon tem uma obsessão desde o ChatGPT e passa cada minuto acordado tentando derrubar Sam do mercado”, disse um dos que saíram recentemente.

Na semana passada, a xAI acusou a OpenAI de “saquear e se apropriar indevidamente” de códigos e segredos de data centers ao contratar engenheiros da empresa. A rival chamou o processo de “mais um capítulo do assédio contínuo de Musk”.

Alguns colaboradores também apontaram desconforto com o apoio de Musk a Donald Trump e a figuras da extrema-direita nos EUA e na Europa. Eles relataram temer até conversas em família sobre as opiniões polarizadoras do bilionário —desde os direitos de pessoas trans até o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk.

Musk, Tesla e xAI se recusaram a comentar.

Tradicionalmente, a Tesla era considerada a parte mais estável do conglomerado de Musk. Mas muitos executivos saíram depois que a empresa cortou 14 mil empregos em abril de 2024. Algumas dessas saídas foram motivadas pela decisão de Musk de reduzir investimentos em novos projetos de veículos elétricos e baterias —que muitos funcionários viam como centrais para a missão de reduzir emissões globais—, priorizando em vez disso robótica, inteligência artificial e robotáxis autônomos.

Musk cancelou um programa para construir um carro elétrico de baixo custo de US$ 25 mil, que poderia ser vendido em mercados emergentes. Internamente, era chamado de NV-91, e os fãs o apelidaram de Model 2, segundo cinco fontes com conhecimento do assunto.

Daniel Ho, diretor de programas de veículos e responsável pelo projeto, que se reportava diretamente a Musk, deixou a empresa em setembro de 2024 e se juntou à Waymo, braço de táxis autônomos do Google.

Outros executivos também saíram após essa guinada: Rohan Patel e Hasan Nazar, de políticas públicas; Drew Baglino, chefe das divisões de trem de força e energia; e Rebecca Tinucci, líder da divisão de supercarregadores, que foi para a Uber depois que Musk demitiu toda a equipe e desacelerou a construção de estações de recarga ultrarrápida.

No fim do verão, David Zhang, responsável pelos lançamentos do Model Y e do Cybertruck, deixou a Tesla. O diretor de informação Nagesh Saldi saiu em novembro.

Em abril, renunciou Vineet Mehta, veterano de 18 anos descrito como “fundamental em tudo relacionado a baterias”. Em junho, saiu Milan Kovac, chefe do programa de robótica humanoide Optimus. No mês seguinte, Ashish Kumar, líder da equipe de IA do Optimus, foi para a Meta. “O ganho financeiro na Tesla era significativamente maior”, escreveu Kumar no X, respondendo críticas de que teria saído por dinheiro. “A Tesla já pagava muito bem, muito antes de o Zuck transformar isso em moda.”

Com a forte queda nas vendas —que muitos atribuem ao afastamento de clientes liberais por causa do comportamento político de Musk—, Omead Ashfar, confidente próximo conhecido como o “bombeiro” e “executor” do bilionário, foi demitido em junho do cargo de chefe de vendas e operações na América do Norte. Seu vice, Troy Jones, saiu pouco depois, após 15 anos de empresa.

“O comportamento de Elon está afetando a moral, a retenção e a atração de talentos”, disse um ex-braço direito de longa data. Segundo ele, Musk “passou de alguém que era admirado por pessoas de todos os perfis, para alguém que apenas um certo grupo apoia”.

Poucos ex-funcionários criticam Musk abertamente, temendo retaliações. Mas Giorgio Balestrieri, que trabalhou oito anos na Tesla na Espanha, é um dos poucos que se pronunciaram publicamente, dizendo neste mês que pediu demissão por acreditar que Musk causou “um enorme dano à missão da Tesla e à saúde das instituições democráticas”.

“Adoro a Tesla e meu tempo lá”, disse outro que saiu recentemente. “Mas ninguém que eu conheço consegue ignorar a política. Quem é que quer lidar com isso? Recebo ligações ao menos uma vez por semana. Meu conselho é: se sua bússola moral indica que você precisa sair, esse sentimento não vai desaparecer.”

A presidente da Tesla, Robyn Denholm, contestou: “Sempre há manchetes sobre pessoas saindo, mas não vejo as manchetes sobre pessoas entrando. Nossa base de talentos é excepcional… na Tesla desenvolvemos as pessoas muito bem e continuamos sendo um ímã para talentos.”

Na xAI, parte dos funcionários demonstrou resistência ao absolutismo de Musk em relação à “liberdade de expressão” e ao que veem como uma abordagem negligente em relação à segurança dos usuários, enquanto ele acelera o lançamento de novos recursos de IA para competir com a OpenAI e o Google. No verão, o chatbot Grok, integrado ao X, chegou a elogiar Adolf Hitler após Musk ordenar mudanças para torná-lo menos “politicamente correto”.

Liberatore, o ex-CFO, foi um dos executivos que entraram em choque com pessoas próximas a Musk por causa da estrutura corporativa e das metas financeiras rigorosas, segundo fontes. “Os leais ao Elon, que compartilham de seus traços, estão demitindo pessoas e tomando decisões sobre segurança que considero muito preocupantes internamente”, disse uma delas. “Mike é um homem de negócios, um capitalista. Mas também é alguém que faz as coisas do jeito certo.”

O Wall Street Journal foi o primeiro a noticiar parte dessas disputas internas.

Linda Yaccarino, CEO do X, renunciou em julho após a rede social ser incorporada pela xAI. Ela já demonstrava frustração com as decisões unilaterais de Musk e com as críticas sobre a queda da receita de publicidade.

Um mês depois, Igor Babuschkin, cofundador e engenheiro-chefe da xAI, também pediu demissão para fundar seu próprio projeto de pesquisa em segurança de IA.

Executivos de comunicação como Dave Heinzinger e John Stoll, que passaram três e nove meses no X, respectivamente, retornaram aos antigos empregadores, segundo fontes. O X também perdeu engenheiros seniores e funcionários de produto que se reportavam diretamente a Musk e estavam conduzindo a integração com a xAI.

Entre eles, Haofei Wang, chefe de engenharia de produto; Patrick Traughber, responsável por produto de consumo e pagamentos; Uday Ruddarraju, que supervisionava a engenharia de infraestrutura do X e da xAI; e Michael Dalton, engenheiro de infraestrutura —estes dois últimos foram contratados pela OpenAI.

Musk não dá sinais de recuar. O “Ani bot”, da xAI, causou polêmica após interações sexualmente explícitas com adolescentes usuários do app Grok. Ainda assim, Musk instalou um holograma da personagem Ani no saguão da empresa para receber os funcionários.

“Ele é o chefe, o alfa, e quem não o trata assim, ele encontra uma forma de eliminar”, disse um ex-executivo de alto escalão da Tesla.

“Ele não enxerga tons de cinza, é extremamente calculista e focado… isso o torna difícil de lidar. Mas, se você estiver alinhado com o objetivo final e aguentar firme, dá para trabalhar. Muita gente consegue.”

Consultor Júridico

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