O governo Donald Trump iniciou conversas preliminares com empresas de computação quântica para discutir um possível apoio financeiro a um setor visto como estratégico na crescente disputa tecnológica com a China.
Segundo pessoas com conhecimento das tratativas, autoridades do Departamento de Comércio discutiram com executivos do setor o uso de recursos da Chips Act (lei aprovada sob Biden para reerguer a fabricação de chips) para financiar projetos e companhias considerados críticos para a segurança nacional.
As conversas ainda estão em estágio inicial, e qualquer discussão sobre valores ou participação acionária seria prematura, disseram essas fontes sob anonimato.
O governo indicou que, em troca de eventual apoio financeiro, buscaria alguma contrapartida. Sem detalhar, as fontes citaram como modelo o acordo recente com a Intel, que deu ao governo uma fatia de 10% na fabricante de chips.
Um porta-voz do Departamento de Comércio afirmou que a agência não está atualmente negociando participação acionária com empresas de computação quântica. A Casa Branca não respondeu a pedidos de comentário.
Embora ainda incipientes, as conversas mostram que Washington quer impulsionar uma indústria nascente considerada essencial para manter a liderança tecnológica americana em áreas como inteligência artificial.
O movimento também evidencia até onde o governo está disposto a ir para enfrentar o avanço de rivais geopolíticos como a China, que vem destinando grandes recursos estatais a projetos de IA e computação quântica.
Autoridades americanas classificam a computação quântica como prioridade de segurança nacional. A tecnologia, caso atinja plena maturidade, poderia permitir a países adversários quebrar códigos de criptografia usados para proteger inteligência militar, transações financeiras e grandes volumes de dados pessoais sensíveis.
Computadores quânticos codificam informações em unidades chamadas qubits e exploram propriedades subatômicas para gerar capacidade de processamento muito superior à dos supercomputadores atuais. Google, IBM e várias startups estão entre as empresas que disputam a liderança na área, mas os custos ainda são elevados e o uso, restrito principalmente a pesquisas.
Um dos principais obstáculos é encontrar aplicações práticas. Nesta quarta-feira (23), o Google anunciou um avanço com seu chip quântico Willow, capaz de rodar um algoritmo que supera o desempenho dos supercomputadores mais potentes e pode ser reproduzido em plataformas semelhantes.
Segundo a empresa, as descobertas abrem caminho para aplicações úteis em áreas como medicina e ciência dos materiais dentro de cinco anos.
O interesse dos investidores vem impulsionando as ações das companhias do setor. A IonQ, sediada em College Park (Maryland), subiu cerca de 300% no último ano. No início de outubro, a empresa levantou US$ 2 bilhões por meio de uma oferta de ações e instrumentos financeiros conversíveis para uma afiliada do grupo Susquehanna International.