IA vai aumentar expectativa de vida? Não é bem assim – 24/10/2025 – Tec

Às vezes penso que o ChatGPT faz um desserviço ao campo mais amplo da inteligência artificial. Enquanto alucinações, imprecisões, fraudes em exames e redatores robóticos dominam o discurso, outros usos da tecnologia estão revolucionando a ciência.

No ano passado, o prêmio Nobel de Química foi concedido a Demis Hassabis e John Jumper, do Google DeepMind, por seu trabalho pioneiro em criação e identificação de proteínas impulsionado por IA. O AlphaFold promete acelerar enormemente a descoberta e o desenvolvimento de medicamentos, e já está sendo usado para combater cânceres e outras doenças.

Desde então, a OpenAI entrou na disputa, desenvolvendo uma versão pequena e especializada de seus modelos de linguagem de grande escala adaptada para a ciência da longevidade, com resultados iniciais promissores. Desenvolvimentos como esses, aliados à promessa de avanços muito maiores logo adiante, levaram alguns a fazer afirmações ousadas sobre a extensão radical da vida graças à IA.

Mas ao explorar o mais recente estudo sobre tendências mundiais de mortalidade do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, fui pego por outro pensamento: estamos subestimando o risco de que a IA possa exercer uma maior pressão nas pessoas e reduzir a expectativa de vida humana?

Uma das descobertas principais é que, embora as taxas de mortalidade continuem a diminuir gradualmente nas pessoas mais velhas, as mortes entre adultos jovens e de meia-idade (entre 25 e 65 anos) têm aumentado em muitos países, principalmente nos EUA, Canadá e Reino Unido. Essa tendência está impactando o que seriam aumentos sólidos na expectativa de vida geral, que está em estagnação.

Essa preocupante alta na mortalidade na meia-idade é frequentemente atribuída às “mortes por desespero” —suicídio, uso de drogas ou álcool, afligindo pessoas em extrema angústia. Porém, pesquisas mais recentes, que acompanharam milhares de adultos nos EUA ao longo de várias décadas, descobriram que o enquadramento do “desespero” não é exatamente o mais preciso.

O que marca aqueles que sucumbem ao comportamento autodestrutivo não é o sofrimento psicológico ou dificuldades financeiras —especificamente são o desemprego de longo prazo e o isolamento social.

Minha análise da mortalidade na meia-idade em ambos os lados do Atlântico confirma que uma narrativa igualmente simplista de “é apenas a disponibilidade de drogas” é somente uma parte da história.

As mortes por abuso de substâncias químicas não aumentaram uniformemente em toda a população; elas afetam parte das pessoas que foram atingidas por grandes choques negativos relacionados ao emprego no início da vida.

Isso é mais evidente na Escócia, onde a maior parte das mortes por drogas e suicídio afetou a geração que cresceu durante períodos de alto desemprego durante a rápida desindustrialização das décadas de 1970 e 1980.

Mas drogas e deslocamento econômico não são suficientes por si só para justificar o aumento. Muitos países da Europa Ocidental com fentanil em circulação enfrentaram períodos de desemprego quase tão graves e não tiveram ondas de mortalidade.

Dados separados destacam a peça final do quebra-cabeça: tanto homens jovens quanto pessoas desempregadas relatam estar significativamente mais isolados socialmente em países de língua inglesa, aumentando notadamente o risco de comportamento autodestrutivo.

Vários fatores em países que não são anglo-saxões podem estar desempenhando um papel protetor aqui, desde níveis de crença religiosa e solidariedade social até fatores mais concretos, como unidades familiares multigeracionais estreitamente unidas. Estes podem permitir que outras populações resistam a tempestades que danificam as sociedades anglófonas.

Essa perigosa combinação de deslocamento econômico e isolamento social nos traz de volta à IA. Se futuras aplicações dos atuais modelos de linguagem de grande escala provocarem, um dia, desemprego em larga escala, não será um pico passageiro. Em vez disso, significará a destruição duradoura de profissões e carreiras, marcando permanentemente a geração afetada.

Como o desemprego involuntário duradouro (muito mais do que a angústia financeira) é o que causa o dano, mesmo uma renda básica universal substancial pode não ser suficiente para substituir a perda de propósito, camaradagem e contato social que o trabalho pode proporcionar.

Agravando isso, passar mais tempo conversando com modelos de linguagem de grande escala e menos com humanos aumenta o risco de maior isolamento. Há evidências de que as plataformas digitais podem estar ajudando a acelerar as taxas de ruptura de relacionamentos.

O resultado poderia ser uma disputa na expectativa de vida: saúde aprimorada por IA para aqueles que chegam à terceira idade, e vulnerabilidade elevada pela IA para os jovens e pessoas de meia-idade. Tanto os formuladores de políticas quanto os indivíduos seriam sábios em se defender contra este último.

Consultor Júridico

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