No deserto do Vale do Phoenix, a Intel investiu mais de US$ 20 bilhões (R$ 107 bilhões) em uma fábrica de quatro andares que é central em sua tentativa de se reerguer.
Dentro do edifício, chamado Fab 52, a empresa está estreando um novo processo de fabricação para criar chips mais potentes e eficientes. Ele utiliza as máquinas de litografia da holandesa ASML, permitindo que a Intel produza semicondutores de ponta nos Estados Unidos pela primeira vez em quase dez anos.
Durante uma visita recente, duas dessas máquinas —avaliadas em US$ 250 milhões cada— estavam quase paradas, enquanto engenheiros da ASML, vestidos com trajes esterilizados, trabalhavam em uma delas. Dois espaços vazios aguardavam equipamentos, um sinal da ambição da Intel de expandir.
Nos últimos meses, a companhia levou potenciais clientes à planta de Chandler para tentar convencê-los a fabricar seus próprios chips ali.
Analistas, porém, dizem que a maioria das empresas quer primeiro ver se a Intel consegue produzir bem seus próprios componentes antes de contratá-la para fabricar chips usados em smartphones, sistemas de IA e outras tecnologias.
A nova instalação é vital para o futuro da empresa. Um dia símbolo do sucesso do Vale do Silício, a Intel ficou para trás como fabricante e projetista, superada pela TSMC após falhar em adotar a tecnologia da ASML. Seus chips também foram abandonados pela Apple, por problemas de desempenho e bateria.
Com as vendas em queda, a empresa trocou repetidamente de comando. Em março, nomeou Lip-Bu Tan como seu terceiro CEO em cinco anos. Ele herdou finanças abaladas e uma estratégia ousada: lançar cinco novos processos de produção em quatro anos e transformar a Intel em uma fabricante para outros projetistas.
Tan reforçou o caixa em agosto, quando o governo Trump investiu US$ 8,9 bilhões por uma fatia de 10% da companhia —um dos maiores aportes públicos em uma empresa desde 2008. O dinheiro veio do CHIPS and Science Act, lei aprovada em 2022 para reerguer a fabricação de semicondutores nos EUA.
Em 2021, ao anunciar o investimento, a Intel prometeu gastar US$ 32 bilhões em duas novas fábricas —a Fab 52 e a Fab 62— no campus de Ocotillo, no Arizona, e depois recebeu recursos federais para o projeto. Agora, Tan tenta entregar a segunda parte do plano: o renascimento técnico da companhia.
Em um evento recente, o diretor de tecnologia Sachin Katti reconheceu o tamanho do desafio. O novo processo, batizado 18a, e o chip Panther Lake são “fundamentais para o nosso futuro”, disse ele. “Estamos fazendo duas apostas enormes —e elas são críticas não apenas para a Intel, mas para o país.”
Historicamente, a Intel se destacou por apresentar novas tecnologias em etapas: primeiro aperfeiçoava o processo de produção em chips antigos, depois o aplicava a novos designs. Desta vez, faz ambos os saltos ao mesmo tempo.
O processo 18a empilha transistores, reduzindo o espaço ocupado, e muda o caminho da energia para a parte traseira do chip —antes, energia e dados se chocavam na parte superior. O resultado, segundo a empresa, é um chip mais denso e eficiente, capaz de empilhar 10 mil camadas de silício em uma estrutura mais fina que uma folha de papel.
A série Panther Lake, que deve começar a ser enviada no início de 2026, promete laptops capazes de rodar sistemas de IA e funcionar o dia inteiro. A Intel diz confiar tanto no processo que voltará a produzir seus próprios chips, em vez de depender da TSMC —uma decisão arriscada, pois qualquer partícula de poeira pode inutilizar um chip e gerar prejuízo.
“O produto tem de ser bom, e o processo também”, afirmou Ben Bajarin, analista da Creative Strategies. “Se tudo der certo, o setor saberá que a Intel voltou a operar a pleno vapor.”
Mas o sucesso está longe de garantido. No fim do ano passado, a Intel informou clientes de que o processo 18a estava atrasado em relação aos rivais. A TSMC produzia 30% de seus chips de 2 nanômetros sem falhas; a Intel, menos de 10% dos seus 18a.
Executivos se recusaram a revelar o índice atual de chips perfeitos, que só deve aparecer nos relatórios financeiros de 2026.
Mesmo assim, trazer parte da produção de volta para dentro pode reduzir custos e aumentar margens, segundo Patrick Moorhead, da consultoria Moor Insights & Strategy. É também um teste para provar a clientes como Nvidia e Apple —hoje dependentes da TSMC— que a Intel pode fabricar seus chips.
Por enquanto, a Fab 52 não produz o suficiente para ocupar toda a capacidade. Se convencer outras empresas de que seu processo funciona, poderá comprar mais máquinas da ASML e preencher o espaço ocioso.
“É como um shopping center que precisa de uma loja âncora”, disse Moorhead. “Se encontrar uma, o jogo começa.”