As empresas de tecnologia não se esforçam para combater a desinformação e a disseminação de fake news porque elas lucram com isso. Elas não operam plataformas estáticas, mas complexos ambientes digitais organizados por algoritmos direcionados a gerar mais audiência independentemente se o conteúdo veiculado é verdadeiro ou não.
Essa é a opinião do jurista Francisco Balaguer Callejón, professor catedrático de Direito Constitucional da Universidade de Granada, na Espanha. Ele concedeu entrevista à revista Nomos — Le attualità del diritto, uma publicação que aborda as principais tendências do constitucionalismo contemporâneo.
Ao abordar o tema das fake news, Callejón explicou que esse problema é amplificado pela ignorância ou pelo conhecimento apenas superficial da realidade digital.
O catedrático prega que para corrigir esse problema — ou ao menos reduzir seu impacto — é muito importante conhecer suas causas, dimensões e natureza.
“Tendemos a ver os desenvolvimentos tecnológicos como se fossem algo natural, como se fossem apenas mais um produto de consumo, como se não existissem alternativas à sua configuração atual. O mesmo vale para a desinformação. Parece ser um fato, algo contra o qual não se pode lutar”, afirma.
Segundo ele, as empresas de tecnologia contribuem para confusão sobre a natureza da desinformação, dando a impressão de não ser responsáveis, de simplesmente administrar plataformas estáticas que funcionam como um quadro negro onde cada um escreve o que quer.
“Mas não é assim, as que eles gerenciam não são plataformas estáticas. são aplicativos dinâmicos, hierarquicamente organizados por meio de algoritmos, e esses algoritmos são voltados para a desinformação. Para gerar mais atenção do público”, ensina.
Por fim, ele afirma que esperar que as big techs se autoregulem e desistam da audiência das fake news é como pedir a um mineiro que pare de minerar carvão para não sujar suas mãos.
“A realidade é pior: empresas de tecnologia preferem dados ruins, porque com eles obtêm mais lucro, e é por isso que direcionam seus algoritmos para promover notícias falsas. Pelo menos no que diz respeito ao Facebook, esse foi o caso”, pondera.
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