De empresas de tecnologia a tradutores, o mundo ainda não enfrentou as consequências de a IA (inteligência artificial) eliminar grandes fatias de empregos, disse um dos maiores entusiastas da IA no setor financeiro.
“Tenho a sensação de que muitos dos meus colegas da área de tecnologia estão sendo um pouco, digamos, evasivos sobre esse tema. Acho que vem aí uma mudança enorme no trabalho intelectual. E isso não se restringe ao setor bancário, é algo que afetará toda a sociedade”, afirmou Sebastian Siemiatkowski, CEO da Klarna, em entrevista à Bloomberg Television.
“A sociedade vai ter que descobrir o que fazer, porque sim, novos empregos serão criados, mas no curto prazo isso não ajuda o tradutor em Bruxelas. Ele não vai virar influenciador no YouTube de um dia para o outro”, acrescentou.
A Klarna, mais conhecida por seu serviço “compre agora, pague depois”, tem investido pesado em IA. Em 2023, Siemiatkowski chegou a dizer que queria ser a “cobaia favorita” da OpenAI. Esse entusiasmo foi motivado, em parte, pela necessidade de cortar custos após o fim do boom das fintechs.
Essa estratégia permitiu à Klarna suspender contratações por mais de um ano e reduzir seu quadro de 7.400 para cerca de 3.000 funcionários, ao mesmo tempo em que aumentava os salários. Mas a empresa descobriu que as ferramentas têm limites: no início deste ano, voltou a contratar pessoal de atendimento ao cliente para garantir que os usuários possam sempre falar com um humano. Siemiatkowski disse ainda que a Klarna quase não usa IA nas decisões de crédito atualmente.
Mesmo assim, o executivo sueco continua acreditando que a IA pode desempenhar tão bem quanto, ou até melhor, tarefas de atendimento ao cliente. “É possível gerar muita confiança quando a IA executa certos tipos de tarefa, por causa da consistência e da qualidade”, disse.
A Klarna abriu capital em Nova York em setembro, e soma mais de 114 milhões de clientes —mais do que muitos bancos tradicionais. “Obviamente, esses clientes ainda não têm todos os seus serviços bancários conosco, mas essa precisa ser a meta”, disse Siemiatkowski. A empresa obteve neste ano uma licença de instituição de moeda eletrônica no Reino Unido, o que lhe permite oferecer mais serviços financeiros e competir com empresas como a Revolut.
Para o CEO, o boom da IA marcará o fim do que ele chama de “lucros excessivos” tanto no setor bancário quanto no de software, à medida que empresas tradicionais forem superadas por concorrentes mais ágeis.
“A maioria dos bancos legados provavelmente vai acabar se tornando apenas grandes balanços patrimoniais onde, basicamente, você tem um balanço enorme e otimiza o retorno sobre o patrimônio, e é isso”, disse.
No plano pessoal, Siemiatkowski continua fascinado pelo uso da IA “o tempo todo”. Neste ano, ele começou a aprender o chamado vibe coding para explorar a base de código da Klarna. “Minha esposa reclama porque, quando as crianças vão dormir, eu digo: ‘Ei, posso dar uma olhada no vibe coding um pouco?’ Ela não fica muito feliz comigo. Mas é tão fascinante, é incrível aprender essas tecnologias. As pessoas não deveriam ter medo da tecnologia.”