Conversas entre procuradores da “lava jato” apreendidas pela Polícia Federal na operação “spoofing” indicam que os procuradores se associavam a infiltrados que atuavam informalmente durante investigações.
Os diálogos no aplicativo de mensagens Telegram também mostram que a “lava jato” atuava com flagrantes preparados, e citam o ex-deputado Tony Garcia como exemplo de sucesso.
“O colaborador vai ligar para o investigado e perguntar sobre documentos q seriam produzidos para lastrear contrato fictício. A gravação da ligação seria autorizada judicialmente e operada na sede da PF. Seria flagrante preparado/esperado? Teríamos problemas com essa prova?”, pergunta o procurador Athayde Ribeiro Costa. A mensagem é de 4 de agosto de 2015.
O colega Januário Paludo afirma que utiliza o método ao menos desde 2005 e que conseguiu decisões favoráveis aos flagrantes preparados.
“Em 2005 fizemos várias escutas ambientais a partir do escritório do colaborador (operação tnt). O colaborador marcava reunião e a conversa fluía sem provocação direta. Não anularam. Teria que recuperar a jurisprudência. O colaborador era o Tony Garcia”, diz Paludo.
Em outra conversa, o ex-coordenador da “lava jato” Deltan Dallagnol trata Garcia como um “brinquedo novo” e afirma que o ex-deputado iria “entregar” a construtora Odebrecht. Dallagnol também diz que pediu a Garcia informações sobre quem é o promotor de um caso em que o político buscava diminuição de pena em uma condenação. Ou seja, a “lava jato” tentaria ajudar o ex-deputado em troca de informações sobre a Odebrecht.
“Tony Garcia quer colaborar via Figueiredo entregando Odebrecht e alguém do gab do Governador do PR. Por envolver Ode pedi para ele levantar o nome do promotor que tá com o caso estadual em que TG quer diminuição de pena e para ele falar com Vc. Brinquedo novo, mas manuseie com cautela pq TG é alguém pra ter cuidado, sem falar do cuidado com os advogados tb”, diz Dallagnol.
Em entrevista à CNN, Tony Garcia disse que atuou durante anos como agente infiltrado a mando do ex-juiz Sergio Moro, hoje senador, e do ex-procurador Deltan Dallanol.
“Eles me amarraram nesse acordo durante dez anos. Eles ficaram me usando para obter informações, usaram informações para perseguir o PT, eles usaram da minha amizade com o Eduardo Cunha para eu colher informações de operadores do PT, operadores da Petrobras, operadores do Zé Dirceu, de tudo, eles queriam pegar tudo”, disse à emissora.
Ele também afirmou que relatou o caso em 2021 à juiza Gabriela Hardt. “Eu falei que eu era agente infiltrado, que eu recebia as ordens diretas do Moro, que ele pedia para eu ir sem advogado. Eu fui 40 vezes ao MPF, fiquei trabalhando para eles, me fizeram de funcionário.”