A fabricante de chips Qualcomm procurou a rival Intel, que vive uma crise sem precedentes, nos últimos dias para saber a possibilidade de adquiri-la, disseram duas pessoas familiarizadas com o assunto nessa sexta-feira (20). As fontes pediram anonimato porque as conversas eram confidenciais.
A Qualcomm ainda não fez uma oferta oficial pela Intel, disse uma das pessoas, e os obstáculos para um acordo são grandes. Qualquer acordo seria avaliado pelo órgão regulatório, dado o tamanho colossal e a importância para a segurança nacional de ambas as empresas de chips.
Qualquer esforço para comprar a Intel provavelmente enfrentaria uma rigorosa revisão antitruste e seria examinado de perto por motivos de segurança nacional, já que suas operações de design e fabricação são importantes para aplicações de defesa e para a competitividade geral dos EUA em semicondutores.
Não está claro se os reguladores permitiriam que a Qualcomm comprasse a concorrente sem assumir seu negócio, que enfrenta dificuldades, e também não está claro se a Qualcomm gostaria de assumir esse empreendimento complexo.
Um acordo também seria caro. A Intel, que viu suas ações caírem quase 40% no último ano, tem um valor de mercado de US$ 93 bilhões (R$ 513,45 bilhões). A Qualcomm, que viu suas ações subirem 55%, está avaliada em US$ 169 bilhões (R$ 933,05 bilhões).
As duas empresas, por meio de porta-vozes, recusaram-se a comentar. A negociação foi informada primeiro pelo Wall Street Journal e confirmada pelo The New York Times.
A procura seria inconcebível há uma década, mas a Intel passou a enfrentar problemas de gestão e falhas nas transições tecnológicas que fizeram a empresa ficar muito atrás dos concorrentes.
A companhia perdeu a oportunidade de vender chips para telefones móveis e não conseguiu capitalizar o boom da inteligência artificial, um campo que a rival Nvidia agora domina com chips especializados usados em data centers. As operações de fabricação de chips da Intel, outrora as mais avançadas, também perderam a liderança tecnológica para a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Co.), de Taiwan.
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Os problemas da Intel ganharam destaque no início de agosto, quando anunciou um prejuízo de US$ 1,6 bilhão (R$ 8,83 bilhões) no segundo trimestre e um plano para demitir 15 mil funcionários. Na segunda-feira (16), a empresa anunciou a suspensão da abertura de novas fábricas na Alemanha e na Polônia.
A Qualcomm, com sede em San Diego, é líder em tecnologia celular e fornece chips usados em smartphones de ponta de empresas como Apple e Samsung.
Ao contrário da Intel, a Qualcomm nunca operou fábricas, um negócio caro que a maioria dos designers de chips evita. Portanto, parece mais provável que esteja interessada nas operações da Intel que projetam chips, bem como em sua ampla experiência em software para PCs e canais para vender esses sistemas, disse Patrick Little, ex-executivo da Qualcomm que agora é CEO da SiFive, uma startup do Vale do Silício que vende designs de microprocessadores rivais.
“Essas são coisas que a Qualcomm teria que amadurecer por conta própria ao longo do tempo”, afirmou Little. “Se eles trabalhassem com ou de alguma forma tivessem uma parte da Intel, isso poderia acelerar essa parte de sua estratégia.”