O regulador antitruste do Reino Unido destacou a Microsoft por usar seu domínio em software para sufocar rivais no mercado de serviços em nuvem de 9 bilhões de libras (R$ 65,7 bi) no Reino Unido, enquanto o órgão de fiscalização alertou que a concorrência “não está funcionando”.
Um painel independente a serviço da Autoridade de Concorrência e Mercados (CMA, na sigla em ingês) afirmou nesta terça-feira (28) que a falta de concorrência em serviços em nuvem estava “provavelmente levando a custos mais altos, menos opções, menos inovação e menor qualidade de serviço para empresas e organizações”.
“A Microsoft está usando sua forte posição em software para dificultar que a Amazon Web Services e o Google concorram efetivamente por clientes de nuvem que desejam usar software da Microsoft na nuvem”, disse o grupo em sua decisão provisória.
A medida também recomenda que a CMA use seus novos poderes para decidir se a Amazon e a Microsoft devem receber “status de mercado estratégico” como resultado de sua influência na área.
Uma nova legislação, que entrou em vigor este mês, permite ao regulador do Reino Unido selecionar um pequeno grupo de empresas como tendo tal status e impor certos requisitos de conduta para tentar aumentar a concorrência.
A decisão ocorre enquanto a CMA está sob intensa pressão do governo para mostrar que está promovendo o crescimento, enquanto o Partido Trabalhista tenta aumentar o investimento empresarial no Reino Unido. Em um movimento inesperado na semana passada, o presidente da CMA, Marcus Bokkerink, foi destituído pelo secretário de negócios Jonathan Reynolds e substituído pelo ex-chefe da Amazon UK, Doug Gurr
Em artigo publicado no Financial Times, Gurr disse que a agência procuraria acelerar suas investigações para tentar desbloquear maior investimento no país e trazer expertise setorial para que as empresas não precisem perder tempo educando o regulador sobre a indústria.
A investigação sobre serviços em nuvem vem ocorrendo de várias formas há mais de dois anos. A Ofcom abriu um estudo de mercado em outubro de 2022 e publicou um relatório provisório antes de encaminhá-lo à CMA um ano depois.
O grupo de inquérito da CMA disse que uma falta geral de concorrência estava interferindo na capacidade dos clientes “de mudar de provedor de nuvem ou usar múltiplas nuvens, o que pode, em última análise, impactar o preço e a qualidade dos serviços”.
Amazon e Microsoft são os dois maiores provedores de serviços em nuvem, cada um com uma participação de até 40% dos gastos dos clientes no Reino Unido, seguidos pelo Google.
Rima Alaily, vice-conselheira geral da Microsoft e chefe de seu grupo de direito da concorrência, disse em um comunicado que o relatório “deveria estar focado em pavimentar o caminho para o futuro impulsionado por IA do Reino Unido, não fixando-se em produtos legados lançados no século passado”.
“O mercado de computação em nuvem nunca foi tão dinâmico e competitivo, atraindo bilhões em investimentos, novos entrantes e rápida inovação. O que poderia ser melhor para as empresas e o governo do Reino Unido?”, acrescentou Alaily.
A Amazon Web Services disse que a intervenção proposta pela CMA “não era justificada” e instou a agência a “considerar cuidadosamente como a intervenção regulatória em outras áreas sufocará a inovação e, em última análise, prejudicará os clientes no Reino Unido”.
“As evidências demonstram que a indústria de serviços de TI é altamente competitiva”, disse a AWS. “A computação em nuvem reduziu os custos para as empresas do Reino Unido com serviços sob demanda e preços pay-as-you-go, expandiu a escolha de produtos e aumentou a concorrência e a inovação.”
Chris Lindsay, vice-presidente de engenharia de clientes do Google Cloud na Europa, Oriente Médio e África, disse: “Licenciamento restritivo prejudica os clientes de nuvem do Reino Unido, ameaça o progresso econômico e sufoca a inovação, e estamos encorajados que a CMA reconheceu o dano dessas práticas.”
A CMA deve publicar uma decisão final até 4 de agosto.