Análise do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), indica que 2024 já registra a seca de maior extensão e intensidade no Brasil dos últimos 70 anos. Somadas, as áreas com alguma condição de seca atingem cerca de 5 milhões de km2, o que equivale a cerca de 58% de todo o território nacional.
“Olhando o país como um todo, a seca de 2024 já é a mais extensiva da história recente”, avalia a pesquisadora e especialista em secas do Cemaden, Ana Paula Cunha. Ela cita que nos períodos de 1998 e em 2015/2016 houve secas expressivas no país. A área em 2015, por exemplo, ultrapassou 4,5 milhões de km2.
A evolução temporal dos períodos mais secos e mais úmidos no Brasil avaliou dados de 1950 a 2024 utilizando o Índice de Precipitação Padronizado de Evapotranspiração (SPEI, na sigla em inglês), uma ferramenta utilizada para medir e monitorar a seca. “O SPEI leva em conta duas coisas principais: a quantidade de chuva que cai e a quantidade de água que se perde por evaporação e transpiração das plantas. A evaporação depende da temperatura: quanto mais quente, mais água evapora”, detalha a pesquisadora.
O gráfico aponta que desde a década de 1990 os períodos de seca preponderam, conforme a mancha vermelha. Quando houve períodos úmidos, como em 1993, 2000 e 2009 – indicados em azul, eles foram muito inferiores, comparado com os existentes nas décadas anteriores.
“De acordo com os dados, as secas têm se tornando mais frequentes e intensas nos últimos anos”, avalia Ana Paula Cunha.
A seca é uma tipologia de desastre monitorada pelo Cemaden. No Brasil, afeta o maior número de pessoas e provoca impactos econômicos significativos. No ano passado, cerca de 30% dos municípios brasileiros apresentaram ao menos um mês em condição de seca severa, extrema ou excepcional. Os 1.677 municípios abrangeram mais de 4 milhões de km² de área territorial e uma população estimada em mais de 42 milhões de habitantes.
Boletim de secas
O boletim de monitoramento de agosto aponta 3.978 municípios com algum grau de seca, sendo que 201 encontravam-se em condição de seca extrema. A previsão é de que o número suba para 4.583, com 232 em seca severa em setembro. A situação pode se agravar com a perspectiva de atraso no início da estação chuvosa. “Todo o Centro-Norte do país pode ter intensificação de secas nos próximos três meses”, aponta a especialista. Além da situação crítica dos rios nas regiões Centro-Oeste e Norte, há aumento no risco de propagação de incêndios florestais.
O boletim também apresenta dados sobre o monitoramento da seca em terras indígenas. Em agosto, 45 foram classificadas na condição de seca extrema e 161 com seca severa, a maior parte está localizada nas regiões Norte e Centro-Oeste.
O número de dias secos consecutivos, que ultrapassou 120 dias em 2024 em muitas regiões, também pode causar impactos na agropecuária, especialmente nas terceiras safras de milho e feijão, além da qualidade das pastagens, impactando a pecuária extensiva. “Em grande parte do país a qualidade das pastagens está pior em razão desse período prolongado de seca”, afirma Cunha.
O Cemaden avalia mensalmente a condição de seca por meio do Índice Integrado, que considera déficit de chuvas, déficit de umidade do solo e secura da vegetação. “Quanto mais distante do normal estão essas três variáveis, maior é a intensidade da seca”, explica Cunha.
Acesse aqui o boletim de agosto de monitoramento de secas e impactos.