A Câmara dos Estados Unidos aprovou na quarta-feira a Lei de Proteção dos Americanos contra Aplicativos Controlados por Adversários Estrangeiros. Se avançar também no Senado, a legislação pode banir o TikTok e outras redes chinesas do país. AByteDance, dona do TikTok, tem 165 dias para vendê-lo, o que não deve ser tão fácil, uma vez que uma regulamentação chinesa impede a comercialização do algoritmo para empresas estrangeiras.
Se a ByteDance não acabar com sua participação acionária, as lojas de aplicativos e serviços de hospedagem nos EUA ficam proibidas de oferecer a rede social para os 170 milhões de usuários no país. O projeto tem apoio bipartidário e foi aprovado em uma votação esmagadora de 352 congressistas a favor e apenas 65 contrários.
O #Hashtag relembra 5 momentos chaves da história do TikTok, a plataforma chinesa mais popular no mundo ocidental —e, por tabela, a mais controversa.
Surgimento
O TikTok é o produto mais bem-sucedido da ByteDance, empresa conhecida como “fábrica de aplicativos”. Ele não surgiu de uma hora para a outra.
Em setembro de 2016, a ByteDance lançou o Douyin, um app de sincronia labial para concorrer com o Musical.ly, que dominava o mercado. Em maio de 2017, houve um rebranding para o mercado ocidental, e o Douyin passou a ser chamado de TikTok.
Mas havia um delicado problema de penetração. Usuários de países como Estados Unidos, Europa e Brasil ainda preferiam o Musical.ly. A solução foi comprá-lo por um valor estimado em US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões), e depois encerrá-lo de maneira gradual em 2018.
1º boom
No fim de 2018, uma desconhecida rede social começou a liderar diversos rankings de aplicativo mais baixado nos Estados Unidos. Foi o primeiro contato de muitos adultos com a ferramenta chinesa dominada por adolescentes e famosa por seus vídeos de dancinha. O colunista da Folha Ronaldo Lemos elegeu o TikTok como o app do ano. “O TikTok é uma usina de inteligência artificial, capaz de entender profundamente as preferências de quem o usa”, escreveu.
Estouro pandêmico
Com boa parte do planeta em casa devido à pandemia de coronavírus, o TikTok obteve, no primeiro semestre de 2020, o melhor desempenho de um app até então: 315 milhões de downloads. O uso criativo dos vídeos de fácil edição foi a combinação perfeita naquele momento.
Em setembro de 2021, a rede atingiu 1 bilhão de usuários ativos mensais, consolidando-se no time dos grandes, ao lado de Facebook, Instagram, WhatsApp e YouTube.
A ofensiva de Trump
Em agosto de 2020, em meio ao boom do TikTok, o ex-presidente americano Donald Trump assinou uma ordem executiva para bani-lo dos Estados Unidos, alegando ameaça à segurança nacional.
Houve uma comoção no país, principalmente entre jovens, maior fatia dos usuários. Em meio a um complexo embate judicial, o processo foi encerrado no início do governo Biden sem o app nunca ter saído do ar.
Após a Câmara aprovar a nova lei que pode proibir o aplicativo, o republicano mudou o discurso. Para ele, “sem o Tiktok você torna o Facebook maior. Há muitas pessoas nos EUA que amam o aplicativo, há muitos jovens que amam o TikTok e que ficariam loucos sem ele”.
Como pano de fundo nessa história, o bilionário Jeff Yass, controlador de 15% da ByteDance, é o maior doador individual para o partido Republicano neste ciclo eleitoral, com US$ 46 milhões (cerca de R$ 227 milhões).
Guerra fria
Apesar de ter encerrado a ordem executiva do governo Trump, o governo do democrata Joe Biden nunca viveu uma lua de mel com a rede chinesa.
O TikTok é mais um elemento dentro de um discurso anti-China mais complexo, com reflexos econômicos e geopolíticos.
Em 2023, por exemplo, o governo Biden apoiou o Restrict Act, em que os EUA exigiam que proprietários chineses vendessem suas ações para evitar ser banidos do país. Na apresentação do projeto no Senado, o democrata Mark R. Warner, do estado da Virgínia, foi enfático: “Hoje, a ameaça que todo mundo comenta é o TikTok”.
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