Em uma sessão de perguntas e respostas abrangente com os funcionários da Meta na quinta-feira (30), Mark Zuckerberg, CEO da empresa, defendeu as recentes mudanças que fez para afrouxar as restrições sobre discurso online e o fim da checagem de fatos e das iniciativas de diversidade, além de reforçar a aceitação da nova administração do presidente Donald Trump.
“Quero deixar claro que, após os últimos anos, agora temos a oportunidade de ter uma parceria produtiva com o governo dos Estados Unidos“, disse Zuckerberg, de acordo com uma gravação da reunião compartilhada com o The New York Times. “Vamos aproveitar isso.”
Zuckerberg, de 40 anos, afirmou que era “fundamental” para a Meta —dona do Facebook, Instagram, Threads e WhatsApp— estar em melhores termos com governos ao redor do mundo.
“O governo pode estar ativamente se opondo a você, tentando atrapalhar e adicionar muitos conflitos, ou pode estar ativamente tentando ajudá-lo a derrubar barreiras para ajudá-lo”, disse ele.
Na reunião de uma hora com mais de 70 mil funcionários da Meta, Zuckerberg também disse que 2025 seria um ano significativo para iniciativas potencialmente transformadoras dos negócios da Meta, incluindo foco em IA (inteligência artificial), centros de dados e o mundo imersivo do metaverso.
As declarações de Zuckerberg sinalizaram seu controle mais firme sobre a Meta em meio a reformulação da empresa para a era Trump, para a consternação de alguns de seus funcionários. Neste mês, Zuckerberg anunciou mudanças abrangentes para reduzir as restrições da Meta sobre discurso, encerrou um programa de verificação de fatos e eliminou ações de diversidade.
É a coisa certa a se fazer
Ele também compareceu à posse de Trump e criticou a administração do ex-presidente Joe Biden por ser anti-tecnologia.
Na Meta, Zuckerberg tem reprimido a dissidência dos funcionários nos últimos anos, incluindo a proibição de discussões no local de trabalho sobre certas questões sociais e políticas controversas.
Alguns trabalhadores se opuseram às mudanças, como a remoção de absorventes dos banheiros masculinos da empresa, que eram fornecidos para funcionários transgêneros e não binários. Até quinta, alguns funcionários estavam circulando com um formulário de inscrição para que colegas comprassem produtos de higiene e os levassem aos escritórios da Meta como protesto, disseram duas pessoas que viram o formulário.
Um porta-voz da Meta se recusou a comentar. O Business Insider publicou anteriormente partes da conversa de Zuckerberg.
Durante a reunião, Zuckerberg disse que algumas das mudanças da Meta —como a eliminação de muitas de suas equipes de diversidade, equidade e inclusão— eram um reflexo dos tempos.
“Estamos no meio de um cenário de políticas e regulamentações que muda rapidamente e que vê qualquer política que possa favorecer um grupo de pessoas sobre outro como algo ilegal”, disse ele. “Por causa disso, nós e todas as outras instituições por aí precisaremos nos ajustar.”
Zuckerberg disse que pessoalmente acreditava que a Meta tinha um “bom histórico” em diversidade e que ter uma força de trabalho diversa era uma força.
Janelle Gale, chefe de pessoal da Meta, disse na reunião que havia outros tipos de discriminação que não eram tão amplamente reconhecidos na Meta, mas que ainda precisavam ser abordados. A empresa demitiu mulheres por assédio sexual, disse ela, e algumas pessoas foram excluídas por suas opiniões políticas.
Zuckerberg disse que a empresa estava retomando uma forma de treinamento de viés inconsciente que não se concentraria apenas em “alguns grupos diferentes”.
Alguns funcionários ficaram chateados com a mudança no formato da reunião. Durante anos, os funcionários votaram nas perguntas a serem feitas a Zuckerberg. As que recebiam mais votos eram feitas.
Desta vez, isso não aconteceu. Uma sala de bate-papo lateral onde os funcionários costumavam comentar sobre a apresentação ao vivo também foi removida, disseram duas pessoas que participaram da chamada.
Zuckerberg disse que as mudanças na reunião foram intencionais devido ao aumento do número de vazamentos nos últimos anos.
“Acho que há um monte de coisas que destroem valor sobre as quais não vou falar”, disse ele, referindo-se aos tipos de perguntas que se tornaram públicas. “Talvez seja a natureza de administrar uma empresa dessa escala. Mas é um pouco decepcionante.”
Após a reunião, a Meta enviou uma mensagem interna dizendo que os funcionários seriam demitidos se falassem com a mídia, disseram duas pessoas que receberam o memorando.
Durante a chamada, Zuckerberg também mencionou a incerteza em torno do TikTok, o aplicativo de vídeo de propriedade chinesa que foi banido nos EUA sob uma lei federal que entrou em vigor este mês. Trump assinou uma ordem executiva para pausar a proibição.
O TikTok era um dos “principais concorrentes” da Meta, disse Zuckerberg, acrescentando que estava acompanhando de perto o desdobramentos do caso.
Os funcionários perguntaram a Zuckerberg se o surgimento da DeepSeek, startup chinesa que produziu um modelo avançado de IA por uma fração do custo de muitas outras empresas, levantava dúvidas sobre o aumento dos gastos da Meta com centros de dados.
Zuckerberg disse que a DeepSeek ajudaria a estratégia de código aberto da Meta em torno da IA, que inclui compartilhar código livremente para que outras empresas possam construir aplicativos e continuar melhorando a tecnologia. Alguns dos avanços tecnológicos da DeepSeek já ajudaram a melhorar os modelos de IA da Meta, disse ele.
Mas os gastos com centros de dados —que fornecem poder computacional para avanços em IA— ainda seriam uma vantagem competitiva para a Meta, disse Zuckerberg.
“Este ano parece um pouco mais como uma corrida para mim”, disse ele. “Vai ser um ano louco.”